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Língua de Herança - A importância de ensinar Português aos nossos filhos

Língua de Herança – A importância de ensinar Português aos nossos filhos

Como imigrantes em qualquer lugar do mundo, será sempre um desafio muito grande enquanto pais manter vivo o português dentro de casa, mas isto tem um valor inestimável. Nossa língua de herança nos trás muito mais do que uma forma a mais de saber se comunicar, traz parte da nossa historia em cada palavra.

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Conversando com a sociolinguista Ana Souza, PhD pela Universidade de Southampton, Inglaterra; descobrimos que cultivar o português em casa aumenta o desenvolvimento intelectual da criança. Além de trazer várias oportunidades de estudo e trabalho quando maiores, pois saber mais de uma língua é uma grande vantagem neste nosso mundo moderno.

O que é POLH?

POLH é a sigla usada por muitos educadores e acadêmicos que atuam na Europa ao fazerem referência ao ensino de português para crianças ligadas a famílias de brasileiros que vivem no exterior. POLH marca a terceira fase desse ensino, a qual é caracterizada por um posicionamento ideológico multilíngue e multicultural em relação às práticas de ensino-aprendizagem.

Sugiro a leitura do artigo abaixo para mais detalhes.

Souza, A. & Barbosa, L. (2020) ‘Língua de Herança e Língua de Acolhimento: Pontos de encontro no Ensino-aprendizado de Português. In: A. Souza & K. Silva (orgs) O Ensino de Português do Brasil – uma herança, um acolhimento. Londres: JNPBooks. 13-52.

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Por que é tão importante que as crianças cultivem a língua dos pais, a língua de herança?

Língua e identidade possuem ligações muito estreitas e com significados emocionais muito fortes, sejam eles positivos ou negativos. No caso de pais e mães imigrantes, é comum que se sintam mais livres para expressarem-se emocionalmente na língua em que tiveram suas experiências emocionais, sociais e culturais ao longo da vida, independente da fluência que possuem em outras línguas. Assim, muitos pais e mães imigrantes valorizam a comunicação com seus filhos em suas línguas de origem, que passa a ser a língua de herança dos filhos que crescem no exterior. Além de ajudar a manter laços familiares no país de origem, o uso da língua de herança traz vários benefícios cognitivos e acadêmicos para as crianças. Também vale lembrar que vivemos em tempos de globalização, processo no qual o mundo está interconectado política, econômica e culturalmente. Ser falante de mais de uma língua facilita a participação nesse processo. Cultivar a língua de herança, então, é de suma importância.

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Como os adultos podem incentivar o português em casa?

A família tem um papel importantíssimo na socialização das crianças em português. Deve-se ter e demonstrar uma atitude positiva em relação a todas as línguas e culturas que fazem parte do universo da criança. Também é importante expor a criança a situações e contextos variados nos quais as línguas são usadas. Assim, o uso de livros, vídeos, músicas, brincadeiras, interação com instrumentos da Internet e comunicação com pessoas do meio social da criança são exemplos de atividades que a família pode usar para cercar as crianças de experiências linguísticas agradáveis e interessantes.

É preciso ir para uma escolinha de Português?

Inicio minha resposta com outra pergunta: se tivessem no Brasil, as crianças iriam à escola regular? Ou os pais optariam para que as crianças tornassem-se adultos não escolarizados? Muito provavelmente, não ir à escola não seria questionado neste contexto. Afinal, na escola, as crianças aprenderiam a ler e escrever, como também iriam desenvolver conhecimento acadêmico – atividades que poderiam impactar em suas opções profissionais futuras. Além disso, a escola é mais um espaço de socialização, onde as crianças são expostas à diversidade presente na sociedade e têm a oportunidade de entender as variadas diferenças e desenvolver atitudes respeitosas de convivência. Adiciona-se a isso o fato de que a experiência escolar possibilita o uso da língua em contextos mais formais, onde conceitos mais abstratos, estruturas gramaticais mais complexas, vocabulário mais técnico e requintado são usados.  Ter um espaço assim para o desenvolvimento da língua portuguesa das crianças é essencial para que desenvolvam a língua de herança de maneira mais equilibrada com a língua local usada nas escolas regulares. Desta maneira, as duas línguas são validadas como tendo importância para uso em diversos contextos, não só para o uso familiar.

Ouve se dizer  que o bilinguismo pode atrapalhar a fala, e até mesmo a alfabetização. Isto e verdadeiro?

Esse é um dos grandes mitos sobre o bilinguismo. A realidade é totalmente outra: falar mais de uma língua traz grandes benefícios cognitivos que contribuem positivamente para o aprendizado, inclusive a alfabetização e o letramento nas diferentes línguas às quais a criança é exposta.

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       E quando a criança se recusa em aprender?

Entendo que a pergunta refere-se à aprendizado formal. No caso da criança frequentar uma das escolas complementares brasileiras no Reino Unido (https://www.facebook.com/polhuk2019), é importante que as aulas sejam interessantes e divertidas para que a criança aprenda brincando. A fala de Thaís, uma ex-aluna do Clube dos Brasileirinhos (https://www.clubebra.com/), ilustra o impacto desse foco no aprendizado das crianças no documentário Uma Língua como Herança (https://www.youtube.com/watch?v=OAmHgBFwDf8 – na altura 10.45 do contador).

            Outro exemplo o adulto fala em português e a criança responde na outra língua que se sente mais confortável?

O uso de línguas diferentes em interações de pessoas bi/multilíngues é um fenômeno normal e não deve ser repreendido. O ideal é que a criança seja exposta a situações e interações de comunicação nas quais o uso de português seja naturalmente necessário.

Ana Souza também Publicou vários artigos em revistas acadêmicas e capítulos de livros, além de ser autora e organizadora do livro Português como Língua de Herança – recortes em casa, na igreja e na escola (2016). Coorganizadora dos livros O POLH na Europa – Português como Língua de Herança  – vol. 1 (2017); Línguas, Identidades e Migração: Brasileiros na Europa (2019); O Ensino de Português do Brasil – uma herança, um acolhimento (2020), Português como Língua de Herança – uma disciplina que se estabelece (2020).  Consultora e elaboradora da cartilha Alunos Imigrantes na Escola – Apoiando o desenvolvimento emocional e acadêmico de alunos imigrantes, publicada em 2019 pela Cáritas Brasileira; e das Propostas Curriculares para o Ensino de Português no Exterior – Português como Língua de Herança, publicadas pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil em 2020.

Katia Fernandes & Elisa Oricchio

Entre Brasucas

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